quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Você

Saudade de você quando ouço a sua banda preferida. Às vezes finjo que não ouço, mas ela insiste em tocar nos bares por ai, nas esquinas que eu apareço, meio alterada procurando pelo seu rosto na multidão, mas o que eu vejo é gente bêbada, gente se pegando, gente fumando, gente se amando e você não está. Não, você não está em nenhum lugar, simplesmente fomos separados de planetas, ou vivemos mundos paralelos, posso sentir que você passou por aqui, talvez esteja aqui, mas não consigo te ver, não consigo te tocar. Eu pego o metrô e não posso negar que quando chega na 'Liberdade' me da um frio na barriga, porque era onde eu te encontrava, era o nosso ponto de encontro, mesmo se eu não te visse, eu sabia que você tinha passado por lá e isso me dava um frio na espinha, uma vertigem misturada com ansiedade, ah, como eu queria ter te esbarrado tantas vezes, mas o acaso simplesmente levou você embora. Aquela estação já não tem tanta mais graça, não entendo como minha mente insisti em te esperar, sabendo que não virá. Aquela nossa música virou minha música, pois nunca tive a chance de falar que ela era nossa, ela apenas se desmanchou nos meus ouvidos numa tarde de sábado enquanto eu procurava esquecer o seu rosto e pronto, nem minha música é mais, ela virou um nada, um vácuo no meio do meu ipod, um buraco nas minhas lembranças suas. Não, não consigo negar que vou aos lugares sabendo que posso te encontrar. 'Esteja aqui, só hoje, esteja aqui...' minha mente insiste em te chamar, mesmo meus desejos querendo outros. Me arrumo para você na esperança de dar um click na sua cabeça e você falar: "Você está linda, eu quero você de novo comigo." Mas não ouço isso, pelo contrário, o seu silêncio fala e fala muito: "To nem aí pra você..." E eu tento me curar dessa insistência de te querer de novo fazendo carinho nas minhas mãos, nos meus braços, me beijando profundamente, sentindo seu corpo perto do meu, mas você não é a cura, nem o tempo, nem ninguém. A cura ta na minha cabeça que insiste em algo que nem existe mais. Preciso mudar. Quando acho que me libertei, vem você chegando de fininho, e só o jeito de me olhar, me contorce por inteira, você não sabe a força que tem sobre mim. Fecho os olhos, tentando te afastar dos meus pensamentos, pelo menos só por hoje. Pelo menos por hoje não vou pegar a linha azul, farei outro caminho. Quem sabe assim te esqueço um pouco, quem sabe assim a estação liberdade só será mais uma simples estação, quem sabe com esforço, eu consiga te tirar de mim e respirar de novo, sem voltar pra trás. Só não apareça enquanto eu tiver te esquecendo, porque é um processo diário pra mim. Com todas as forças tentarei te esquecer, mas no fundo, meu corpo inteiro estará gritando por você, mesmo sem eu perceber. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Rua Augusta

Ainda te encontrarei sentado na calçada da Augusta, bebendo sua Stella gelada, talvez fumando um cigarro mesmo que não goste do cheiro. Você estará em frente aquele bar que nos encontramos umas duas ou três vezes e saímos lentamente embriagados com a mistura da nossa própria liberdade. Você, com seu famoso coturno e camiseta branca que lhe caem tão bem, irá me reconhecer de imediato, talvez vai fingir que não me viu, mas não irá resistir. Vai admirar como eu ainda fico bem com aquele vestido roxo e aquela meia calça que você "sem querer" rasgou naquela noite quente de verão, sentado no chão do meu quarto, aquele mesmo dia em que disse que meus olhos eram grandes e os mais lindos que viu na vida, pois eles te arrepiavam. Irá ensaiar sobre vir me dar um oi, ou esbarrar em mim com quem não quer nada, talvez até passar na minha frente várias vezes para eu te notar. Ao invés disso tudo, decide ficar onde está, com sua insegurança e seu famoso orgulho. Eu olharei pelo canto do meu olho como o seu sorriso combina tão bem com seu rosto e como ele me faz falta naqueles dias que eu acho que mais nada tem graça. Suas roupas combinam com as minhas, seu jeito alternativo combina com seu estilo sarcástico de ser, e como esse estilo se encaixava tão bem no meu jeito inocente de ver a vida. Não saberei se falo com você, assim, com quem não quer nada, com quem não sente a mínima saudade, ou se fico te encarando até vir me da um oi, aquele seu oi desajeitado que me dava toda vez que não sabia se me beijava na boca ou não. Ao invés disso pego a minha Heineken e fico pensando como chegar em você e não demostrar que uma parte de mim te quer, ali mesmo, na calçada, com um monte de gente estranha perto. Um momento de sua distração, dou uma afastada para te encarar melhor, e analiso a cara de desespero que você faz quando não me vê mais por perto, quando não me tem ao seu alcance. Decido ir ao banheiro, você conhece as minhas vontades súbitas de fazer xixi, e preciso estar 100%  a vontade para te dar oi, mas assim que retorno você não está mais ali, e nem aqui e nem lá. De repente vejo você subindo a rua, apressado, indo embora, não consigo fazer nada, apenas analiso a forma ridícula e fracassada como te deixo ir, de novo, mais uma vez.